Eu voltei, mas quase não saio
Depois de 5 anos, fui ver minha família no Piauí.
Eu voltei de viagem cheio de histórias. E a mais impressionante delas é que talvez eu nem estivesse aqui para contar essa história.
Minha avó, que no próximo ano fará 90 anos de vida, passou por muitos bocados ao longo de sua jornada.
Entre os anos de 1950 (quando casou com meu avô, com apenas 14 anos, e ele 18) e 1974, minha avó teve um total de 14 filhos: 6 meninas e 8 meninos. Dos 8 meninos, 6 morreram dias ou meses após o nascimento, por diversas razões e complicações da vida na roça.
Em 1º de abril de 1974, ela estava grávida da minha mãe, que nasceria 1 mês e cinco dias depois.
Mas isso quase não aconteceu.
Naquele primeiro de abril, uma das comadres da minha avó (e grande amiga da família, que infelizmente nos deixou, Dona Geruza) chegou com uma triste notícia.
Duas tias minhas, Maria Nazilda e Doralice, de 14 e 12 anos respectivamente, tinham falecido. Uma se afogou em um açude e, na tentativa de salvá-la, a outra também se afogou.
Vovó pensou que fosse alguma brincadeira de mau gosto, dada a data em questão. Infelizmente, não era.
Dona Antônia ficou abalada e, até hoje, briga com os netos quando estes falam que vão para a Belém (que vocês saberão em breve o que é).
Com menos de 50 kg, e isso grávida, minha avó deu à luz à dona Maria Aparecida, minha mãe (também conhecida como minha negona).
Minhas tias comentam que, ao nascer, minha mãe sequer chorou. Acreditavam que ela poderia estar morta. Talvez, apenas estivesse de luto pelas irmãs que não teve o privilégio de conhecer em vida.
Vovó, por sua vez, perdeu muito sangue, e todos acreditavam que poderia ser o fim da matriarca da família Luz.
A ação providencial de dona Geruza, do meu avô e do meu tio-avô, irmão de minha avó, tio Jesuíno (ou tio Jesu, uma figuraça), garantiu que minha avó estivesse, 40 anos depois, vivíssima para contar essa história.
Tio Jesu, que possuía o mesmo tipo sanguíneo de vovó, doou seu sangue para a irmã e ajudou a mantê-la conosco. Por outro lado, a fé e a intervenção divina permitiram que Aparecida, como chama minha avó, crescesse e desse à luz a este que vos escreve.
Nossas famílias possuem histórias que sequer imaginamos.
Aproveite aqueles que ainda estão aqui para descobrir essas histórias, conhecer um pouco do passado, um pouco de você.
Aproveite a vida, para que não tenha que lamentar a morte.